terça-feira, 15 de novembro de 2011

Sepultura "Roots": metal pesado com diversidade cultural



Sepultura 

Roots
(Roadrunner Records)
1996 

Texto por Álvaro Freire Samways

Depois do sucesso e a repercussão mundial de Beneth The Remains, Arise e Chaos A.D. era mais do que esperado que o Sepultura fosse lançar algo bombástico no mercado musical, e isso veio na forma do álbum Roots de 1996. Primeiro deixarei bem claro: o álbum todo se chama The Roots Of Sepultura, e é uma compilação, sendo que o CD 1, chamado Roots, traz somente faixas inéditas, enquanto que o CD 2 é uma reunião de b-sides, covers e performances ao vivo da banda, desde sua formação em 1984. Neste artigo estarei falando somente do disco Roots, que é o disco de faixas inéditas que elevou o Sepultura ao patamar de banda de metal mainstream. Usando de elementos da cultura indígena brasileira, fosse em seus sons ou em suas letras, a banda (que na época contava com sua mais cultuada formação até hoje: Max Cavalera nos vocais e guitarras secundárias, Andréas Kisser na guitarra principal, Paulo Jr. no baixo e Iggor Cavalera na bateria) teceu uma combinação de canções tão intensa e meticulosa que os levou ao patamar de banda de trash-metal obrigatória para os amantes do estilo de qualquer parte do globo terrestre, sendo por muitos celebrada como a banda que iria dominar o estilo no mundo. Porém pouco tempo depois o carismático vocalista Max deixou o grupo, o que acabou por fazer a banda perder muita força e um pouco de seu prestígio entre uma parte dos fãs (mergulhando-a em uma crise que não foi superada nem pela subseqüente entrada do ótimo vocalista Derrick Green). Bom, pelo menos eles podem dizer que são a maior banda brasileira de todos os tempos (como se isso fosse pouca coisa) internacionalmente, pois nenhum outro grupo, mais que o Sepultura, figurou nos grandes festivais musicais, programas de TV, revistas e etc por todo o mundo do que eles.

Roots traz uma sucessão de temas brutais ao longo de suas 15 faixas, todas elas constituindo um trash/groove-metal até então nunca visto sendo praticado por banda nenhuma, pois unia temas brasileiros como musicas indígenas, baião e maracatu à fórmula pesada usada por gente como Slayer, Anthrax e Metallica, fazendo assim uma bela alusão ao seu título. O resultado desta união é a música que garantiu identidade própria ao Sepultura, além de um lugar entre estas supracitadas bandas como uma das maiores do mundo no estilo. 

Logo de cara, em sua abertura com a célebre “Roots Bloody Roots” (obrigatória em todo e qualquer set list ao vivo da banda), a impressão que se tem é a de que a banda está tocando em plena floresta amazônica, sendo acompanhada pelos tambores de guerra xavantes. “Atittude” mantém o peso nas alturas, não abandonando os bons grooves, com Iggor Cavalera mostrando-nos o que aconteceria se caso Dave Lombardo tivesse ido passar uma temporada nas regiões remotas da Amazônia. “Cut-Throat”também usa de elementos tribais em seus arranjos, sendo tão densa quanto um muro de concreto de Alcatraz. Mas o mergulho total no clima indígena tupiniquim vem com a fanfarrona “Ratamahatta”(melhor do disco) logo em sua intro. Imagine a sensação de um gringo ao ouvir uma letra com versos como “fubanga, maloca, bocada”“Zé do Caixão, Zumbi e Lampião” e “Vamo de detona essa porra!”. Lembrando que esta musica conta com a participação de Carlinhos Brown, que na época andava com o nome em alta.

Em “Breed Apart” a impressão que se tem é a de um inacreditável cruzamento de Nação Zumbi com Slayer, com uma intro maracatu e a presença de instrumentos como berimbau, e o peso paquidérmico das guitarras, baixo e vocalizações. Daí pra frente vêm uma ala de canções mais pesadas, sem tanta presença dos elementos brasucas, levando mais um trash-metal padrão ao ouvinte. “Straighthate”segue a linha “doom metal” enquanto “Spit” é uma pancada direta, derretendo em poucos minutos o cérebro dos desavisados. Já “Lookaway” é tão arrastada e pesada, que chega a angustiar o incauto ouvinte.“Dusted” e “Born Stubborn” seguem no clima pesado, mas essas tendendo bem mais pra um lado industrial, com Max potencializando no peso com seus urros mais inspirados.

Novamente retornam as músicas de clima indígena amazônico, com“Jasco” e seu violão direto das rodas caboclas do Pará, sendo seguida por “Itsári”, uma verdadeira dança de celebração indígena da tribo xavante gravada especialmente para entrar neste álbum. Depois destes devaneios tribais, segue a groovadíssima e ótima“Ambush”, que possui uma letra de protesto em favor da Amazônia, trazendo um riff musculoso de guitarra de Andreas e vários elementos da música cultural indígena em uma pausa que há em seu meio. “Endangerd Species” é outra que protesta contra os crimes e comércio de animais silvestres, trazendo um propício clima pesadíssimo para abordar tão triste tema. Para fechar o disco, a paulada “Dictatorshit”, um trash metal rapisíssimo adivindo lá da época Beneath The Remains

Roots é a obra prima do Sepultura e um dos 5 maiores discos de trash-metal da história, sem sombras de dúvida. Se Max não tivesse abandonado o grupo nesta fase crítica, conseqüentemente o Sepultura poderia ter sido a maior banda do estilo no planeta Terra, mas isso, infelizmente, nós nunca saberemos. Só da mesmo pra ter certeza de que o Sepultura criou um jeito totalmente peculiar de tocar metal, misturando-o a ritmos tribais amazônicos, maracatu, baião e outros elementos presentes na cultura do norte do Brasil, garantindo assim uma identidade inimitável dentro de um estilo saturado por tantas bandas sem o menor resquício de criatividade. Nota-se essa face artística indígena no álbum como um todo, sendo que além da música toda a arte envolvida em desenhos nos encartes, pinturas no cd e etc segue esta linha, criando assim uma obra honesta em sua proposta em todos os momentos . Este disco é sem dúvida nenhuma, As Raízes Do Sepultura.



Obs. Essa matéria foi retirada do blog http://criticaanalise.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário